sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Afinal, o que é PANC?

Olá, pessoal!


O assunto de hoje será bem interessante pois é um tema que vem sendo muito discutido atualmente e  que tem ganhado cada vez mais espaço nas mídias (ainda bem!). 


Você já ouviu falar em PANC? 



   Esta é a sigla para Plantas Alimentícias Não Convencionais, e é um assunto que rende muita informação e construção de conhecimento pois há muito o que se aprender e colocar em prática sobre a temática. Tanto que foi desenvolvido um livro especialmente para apresentar essas plantas alimentícias ainda não conhecidas por muitos de nós. 

Sim, banana é uma PANC! Continue lendo o post e saiba mais.
Imagem: fotografia de autoria própria


  Há um tempinho visitei o Jardim Botânico Plantarum (situado na cidade de Nova Odessa, distante de 120 km de São Paulo capital), um centro de referência no que tange à pesquisa e à conservação da flora brasileira. O Jardim Botânico foi idealizado pelo engenheiro agrônomo e botânico Harri Lorenzi, que percorreu durante 35 anos diversos ecossistemas brasileiros em expedições para conhecer, catalogar e coletar espécies de plantas nativas brasileiras.

  Como resultado desse lindo trabalho, Lorenzi desenvolveu materiais riquíssimos na área de botânica e, mais tarde, criou o Jardim Botânico Plantarum para compartilhar com a população da cidade de Nova Odessa e com os turistas  o acervo vivo resultante de suas expedições, o qual materializa claramente a sua grande paixão pelo reino vegetal. Posso dizer que o Plantarum é um lugar maravilhoso, com milhares de plantas, cores e surpresas, um espaço único e de muita paz que faz a gente respirar natureza pelo tempo todo em que estivermos lá. Veja abaixo algumas fotos que fiz durante a visita. Se você puder, não deixe de visitar esse belo espaço... e, claro, não se esqueça de levar sua câmera!!








O Livro das PANC


  O Jardim Botânico também conta com lojinhas que vendem diversos tipos de artigos, como artesanatos, camisetas estampadas com motivos de natureza, cosméticos, entre outros. E, claro, há um espaço para os apaixonados por livros e pela área de botânica e de espécies vegetais, em que são vendidas obras que Lorenzi escreveu sozinho e conjuntamente com outros autores. Dentre os livros estão uma coleção sobre árvores brasileiras, "Frutas no Brasil, Nativas e Exóticas", e o que apresento a vocês hoje, que tem por título "Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas". Veja a capa dele abaixo:




Ele pode ser adquirido, assim como outras obras do autor, acessando o site https://www.plantarum.com.br/


   Há algum tempo que eu tenho procurado me informar e aprender mais sobre as famosas PANC (curiosidade esta bem relacionada e estimulada pela minha formação em Ciências dos Alimentos), e a aquisição deste livro foi um grande estímulo para mergulhar mais profundamente no mundo de alimentos ainda não tão conhecidos, me possibilitando aprender mais sobre parte da cultura alimentar brasileira ainda não tão difundida.

  Pela leitura deste material é notável a grande dedicação dos 10 anos de trabalho dos autores Harri Lorenzi e Valdely Kinupp na elaboração desta referência quando o assunto é  PANC. O livro é muito interessante e vale à pena ser adquirido, pois nos traz 351 espécies de PANC apresentadas quanto a aspectos botânicos de identificação, nomes populares, receitas em que podem ser utilizadas e fotografias (tanto das espécies vegetais quanto dos pratos elaborados).  Aliás, entre os dias 24 e 27 de outubro deste ano, a Biblioteca da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (DIBD, ESALQ/USP) promoveu a "XIX Semana do Livro e da Biblioteca: Os Autores e Suas Obras". O evento teve como objetivo aproximar o público e os autores de obras de grande importância em diversas áreas do conhecimento por meio de palestras ministradas por autores de diferentes áreas. Dentre os autores estava o próprio Harri Lorenzi, que apresentou a temática PANC e o livro escrito por ele e Kinupp. Tive o grande prazer de conhecê-lo pessoalmente e ter meu livro autografado!!







A DIBD ESALQ/USP entrevistou Harri Lorenzi com exclusividade durante o evento. Para assistir, é só clicar aqui

Vamos conhecer algumas PANC?

  As PANC compreendem uma gama de espécies vegetais que podem ser consumidas cruas e/ou refogadas ou cozidas. As partes utilizadas são os frutos (termo que contempla o órgão feminino da flor, o ovário, após sua fecundação e desenvolvimento e que contém a semente em seu interior), as frutas (frutos ou pseudofrutos que podem ser consumidos in natura ou após algum preparo culinário), infrutescências, folhas e pecíolos, flores jovens, inflorescências, ramos, troncos, e partes subterrâneas como raízes e rizomas.

  O termo PANC refere-se tanto às partes de plantas não-convencionais (ou seja, às partes comestíveis de plantas cujo consumo ainda não é muito comum), como às partes não-convencionais de plantas que consumimos com maior frequência. E no Brasil existem tanto espécies nativas de PANC como espécies exóticas, que foram introduzidas em nosso país, onde se adaptaram muito bem. As PANC podem tanto ser cultivadas quanto encontradas na natureza, mas neste caso deve-se ter certeza sobre qual é a espécie vegetal encontrada antes de consumi-la: se você não tem total certeza sobre a espécie da planta que pretende consumir, ou se não está certo de que a identificou corretamente, não a consuma, pois podem existir variedades tóxicas de uma mesma planta.


 

Banana, bananeira, pacová (Musa X paradisiaca L.)

Imagens: fotos de autoria própria.

  A banana é uma das frutas mais consumidas pelos brasileiros e é considerada uma espécie convencional. Porém, está apresentada aqui no post sobre PANC pois, além das frutas em si, outras partes não convencionais da bananeira podem ser consumidas, dentre elas as flores, as cascas das frutas, e o "palmito", parte interna do caule que pode ser cozida ou transformada em farinha. As cascas da banana também podem ser ingredientes de bolos ou dar origem a farinhas quando as frutas ainda estão verdes. A banana verde tem sido muito consumida sob a forma de biomassa pois possui amido resistente, um tipo de amido que é resistente à digestão no intestino delgado, e que tem ação similar às fibras, contribuindo no bom funcionamento do trato gastrointestinal. Outra parte comestível da bananeira é o coração, ou mangará, que pode ser consumido refogado, como sugerem Lorenzi e Kinupp no livro sobre PANC : 
"Retire as brácteas externas e as flores. Abra o mangará ao meio e retire o eixo central, pique fininho  e imediatamente coloque na água com sal e suco de limão para amenizar a oxidação. Deixe de molho. Escorra e lave. Doure alho, cebola, pimenta, sal e demais temperos a gosto na manteiga ou azeite. Acrescente o mangará e refogue bem. Sirva quente puro ou com carnes."



Cunhã, feijão-borboleta, ismênia (Clitoria ternatea L.)

Imagem: foto de autoria própria.


  Essa linda flor é uma espécie herbácea e trepadeira nativa da Ásia Equatorial, e que se adaptou bem às condições do Brasil. É frequentemente cultivada para fins ornamentais e em vários países também possui uso medicinal. A partir das flores da ismênia pode-se extrair um corante natural azul, que pode dar cor a diversos pratos, como risotos, mousses, entre outros. Além das flores, as folhas da ismênia também podem ser consumidas após cozimento. Quer fazer uma mousse azul e impressionar seus amigos em uma reunião ou encontro informal? Vamos ver a receita sugerida pelos autores:

"Colete as flores e lave coletivamente em bacia com água. Triture no liquidificador cerca de 100g de flores frescas, 200g de leite condensado, 200g de creme de leite ou de iogurte natural, 5g de gelatina sem sabor diluída. Leve à geladeira e sirva gelado. Se não tiver gelatina, congele e sirva como sorvete. "


               Araruta, raruta, maranta, arrowroot (Maranta arundinacea L.)

Imagem retirada de: http://hortaeflores.blogspot.com.br

Isso mesmo, araruta! Aquela mesma dos biscoitinhos deliciosos é uma PANC. É comumente cultivada visando à produção dos rizomas, um tipo de caule subterrâneo que cresce horizontalmente - e que estão apresentados na foto. O amido, ou fécula, da araruta é extraído destes rizomas e utilizado na elaboração de cremes, mingaus, biscoitos e pães, possuindo boa digestibilidade. Para extrair esse amido e utilizar em diversas receitas, siga as instruções abaixo elaborada pelos autores: 

"Limpe os rizomas tirando a película esfregando com as mãos e lavando-os ao mesmo tempo. Corte-os em rodela e triture no liquidificador com um pouco de água. Coe e adicione mais água. Aproveite esta água para triturar a nova leva e assim sucessivamente. Ao final, deixe decantar o amido. Escorra a água e lave o amido decantado várias vezes, mexendo. Adicione água e repita a operação até ficar branco. Seque-o ao sol, esfarelando os torrões.  "

                     Peixinho-da-horta, orelha-de-lebre, pulmonária 
                                          (Stachys byzantina K. Koch)

 Imagem retirada de: produto.mercadolivre.com.br

Também chamada de peixinho, essa herbácea perene é muito cultivada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil para fins ornamentais, mas também pode ser consumida após preparo culinário. Além das folhas serem uma gracinha, quem as consome sempre faz elogios a essa PANC. Uma forma bem comum de consumo é empanando suas folhas e fritando-as, ficando bem crocantes e com sabor de peixe frito - daí o nome "peixinho".  

"Colha as folhas jovens, lave-as e escorra bem ou centrifugue. Em um prato bata 4 ovos, sal, orégano, alho amassado, pimentas a gosto. Bata bem com um garfo. Em outro prato, coloque farinha de trigo (ou goma de mandioca) para empanar. Passe as folhas nos ovos batidos e em seguida na farinha e frite imediatamente em óleo quente. Sirva bem quente. Se desejar, pode fazer a típica massa para tempurá com água e farinha de trigo fria ou com maisena. "



Quer conhecer mais variedades de PANC? Deixe um comentário aqui no post para eu saber e escrever mais sobre o tema! Não se esqueça de compartilhar o post com seus amigos.


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Gratidão



Referência consultada: 

Livro: PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS (PANC) NO BRASIL. Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas.
Ano: 2014
Autores: Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi
Editora: Instituto Plantarum de estudos da flora
ISBN: 978-85-86714-46-7


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